5 de Março, 2022

Como sobreviver à desinformação

Como sobreviver à desinformação

 

A invasão russa à Ucrânia acentuou ainda mais o problema de desinformação. Navegar neste mar pérfido não é só complicado, é uma tarefa hercúlea! É necessário um esforço constante de verificação para evitar cair nestas “armadilhas” e partilhá-las, e um espírito crítico inabalável. O esforço, no entanto, compensa, porque no final prevalece a verdade.

Para que o consigas fazer, deixo-te algumas dicas para te ajudar a confirmar toda a informação que chega até ti. Apesar do conteúdo se focar na invasão russa à Ucrânia, podes aplicá-lo em todas as situações em que haja desinformação.

Dica #1 – Desconfia

O primeiro passo é desconfiares de tudo o que vês e lês, até deste texto. Isto é essencial! Perder o espírito crítico é o primeiro passo para ser vítima de desinformação e um difusor dela.

Dica #2 – Conhece os teus enviesamentos

Vê que biases tens, para que não sejas influenciado por eles. Ver uma informação chocante pode mexer connosco, principalmente se encaixar na nossa visão do mundo, e fazer com que a partilhemos sem lhe aplicar espírito crítico. Se duvidas do que acabaste de ler, talvez acredites numa antiga analista da CIA, que afirma precisamente isto num artigo para o USA Today publicado em 2020.

As I write in my new book, “True or False: A CIA Analyst’s Guide to Spotting Fake News,” I was trained to comb through massive amounts of information and root out the fact from the fiction to keep policymakers informed — things like investigating sources of information, checking my own emotions, examining my personal biases and researching information before jumping to conclusions. As I left federal service in mid-2017 to hunt disinformation from the private sector, it occurred to me that this kind of critical thinking was what people needed to employ against their own streams of information.

Dica #3 – Reverse Image

Se vires uma imagem a ser partilhada ad-nauseum, num determinado contexto, confirma se o contexto em que é inserida é o real. Ferramentas como o TinyEye ou o Google Image Search são extremamente úteis para confirmares se determinada imagem já tinha sido usada anteriormente noutro contexto.

Um exemplo disto é a imagem de duas crianças a saudar os soldados ucranianos. Esta imagem foi amplamente partilhada no início da invasão russa, no entanto circula online desde, pelo menos, 2016.

Dica #4 – Se parece mentira, provavelmente, é

Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente não é verdade. Um exemplo é a história do Fantasma de Kyiv. Não há confirmação de que realmente exista e tudo parece indicar, para já, que se trata de um boato. Já se soube entretanto que um dos vídeos amplamente partilhados sobre alegado piloto ucraniano é do jogo Digital Combat Simulator World, como reporta o DW. A Wikipédia tem uma página dedicada a este rumor, onde podes ir vendo atualizações sobre o que se vai sabendo.

Dica #5 – Lê a informação toda

Lê mais que os leads das notícias. Ler apenas os leads pode ser tentador, até porque não exige esforço, mas não é incomum eles revelarem pouca informação, distorcerem o conteúdo que precedem ou até influenciar a forma como se lê o texto. O The New Yorker publicou um artigo sobre esta problemática em 2014.

Dica #6 – Confirma 

Confirma se os autores dos artigos realmente existem e se os sites onde leste a informação são fidedignos. Pode parecer pateta, mas é fácil criar um suposto site noticioso e usá-lo para propaganda. A Wikipédia tem uma lista com alguns destes sites.

Toma também atenção ao endereço, porque este pode conter um caracter diferente do endereço original e isto é o suficiente para enganar os mais distraídos. Se reparares na lista acima mencionada, alguns endereços são muito similares a endereços legítimos. Confirma sempre!

Dica #7 – Valida

Valida com fact-checking. O Luís Galrão, por exemplo, faz um trabalho fantástico de fact-checking no Twitter; a VOST Portugal tem partilhado várias dicas no Twitter sobre como combater desinformação.

Não utilizes apenas o fact-checking feito pelos outros, até porque ninguém é imune à desinformação. Faz também o teu com métodos de OSINT para validar a informação. OSINT é uma sigla para Open-Source Intelligence e consiste, muito sucintamente, em utilizar e analisar informação disponível publicamente. A Wikipédia tem uma explicação mais detalhada do conceito.

Dica #8 – Duvida

Não tomes a informação dos media como 100% verdadeira e confirmada. Os media, com o ímpeto de serem os primeiros a publicar determinada informação, por vezes esquecem-se de a confirmar. Passar nos noticiários não torna a informação necessariamente verdade. Confirma sempre!

TL;DR: Duvida, confirma e valida. Tudo. Sempre. 

Esta necessidade de confirmação é tão importante como oxigénio para respirar, se os teus objetivos são não ser influenciado por desinformação e não ajudar a disseminá-la.

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